quinta-feira, 3 de abril de 2014

Episódios do quotidiano (III)

Não era a primeira vez que os via abandonados, sem que ninguém se importasse. Estranhei mas segui em frente, podia ser ser só ali. Outro dia, outro supermercado e a mesma cena. Carrinhos das compras deixados ao acaso pelo parque de estacionamento. As pessoas iam colocar os sacos das compras no automóvel e depois, pura e simplesmente, encostavam o seu carrinho a um canto. Não houve ninguém que o fosse levar ao sítio correcto. País do primeiro mundo, dizem eles. Falta de educação e formação, digo eu. 
A história não fica por aqui. Outro dia, outro local, outro supermercado. Ainda não tínhamos chegado, quando nos cruzamos com pessoas com o carrinho das compras, os respectivos sacos e os filhos. 'Onde vão?', 'Para casa', 'Com os carros?', 'Sim. Como não têm automóvel, algumas pessoas levam-nos e depois deixam-nos no passeio'. Fez-se luz! Estava explicado o porquê dos carrinhos das compras que eu já tinha encontrado na vizinhança e na cidade.
Até há algum tempo atrás, os supermercados apelavam às pessoas que ligassem a comunicar quando encontrassem um carrinho. Atribuíam prémios para incentivar mas nem assim.
 
Carrinho abandonado em Glebe

O supermercado fica no interior do centro comercial mas ele anda 'perdido' cá fora
 
Pois é... Falamos de Sydney e vem-nos logo à cabeça praias, qualidade de vida, sol, diversão. E sim, também me incluo nesse grupo. Mas quando passamos algum tempo no mesmo sítio, começamos a ver com outros olhos aquilo que nos rodeia. Já não são só qualidades e os defeitos começam a vir ao de cima.
Há quase dois meses que cá estou e ainda só vi dois ecopontos. Um deles era em versão mini, ficava dentro de um edifício histórico e era só para baterias, telemóveis e lâmpadas.
 
O primeiro ecoponto que encontrei
  
O outro estava 'escondido' debaixo de uma ponte.

Será que alguém o utiliza?
 
A autarquia atribui a cada casa três caixotes do lixo: vermelho para indiferenciado, verde para jardinagem e amarelo para reciclagem. A recolha é feita semanalmente. Vidro, plástico e cartão vão todos para o mesmo, não há separação. O plástico não é todo ele reciclado, pelo que uma grande percentagem vai para o lixo indiferenciado. O oleão é desconhecido e o pilhão é uma raridade por estas bandas. 
Quando saio de casa, dou por mim a ter de trazer o lixo comigo no regresso. Não se encontra um caixote de lixo na rua. Estão todos concentrados nos parques. Pelos vistos, aquando dos Jogos Olímpicos em 2000, todos os caixotes públicos foram retirados por questões de segurança. O tempo passou e desde aí nem vê-los. 
São pequenos exemplos que nos fazem pensar, pelo menos a mim, naquilo que temos em casa, em Portugal. A cultura, o desenvolvimento, a educação, a formação de uma sociedade não se mede apenas no salário mínimo, na quantidade de restaurantes, na rede de transportes públicos, na qualidade do atendimento. Há todo um conjunto de normas, hábitos que mostram aos outros quem somos, como somos. E nós, portugueses, somos bons em muita coisa, melhores do que muitos outros. Pena é que só tomamos consciência disso quando nos ausentamos de casa. 

See you soon!

2 comentários:

  1. Agora fizeste-me pensar... já sabemos que o nosso país tem muito valor! Mas tendência é subvalorizarmos o que temos face a países como a Austrália, em que os índices de qualidade de vida são elevados. Fico surpreendida por não se preocuparem com a reciclagem! Será desleixo em relação à preocupação com o meio ambiente? Penso que não. Quando vejo as imagens que mostras, vejo que os espaços parecem sempre limpos, sem lixo pelo chão. Isto pode significar que os australianos se preocupam em não deixar lixo no chão e como existem poucos contentores, levam-no para suas casas. Por outro lado, aqui em Portugal, penso que somos bons a reciclar, temos muitos caixotes do lixo pelas cidades, mas a meu ver, temos muito lixo nas ruas, porque as pessoas se desleixam e preferem largar o lixo na rua, do que procurar um caixote do lixo, nem que o mesmo fique ali mesmo ao lado. Estarei a ser demasiado "dura" com os maus hábitos dos portugueses?

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  2. E eu a pensar que só na Brasil é que havia essa mania de deixar os carros da compras em qualquer canto ..... Lol

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